terça-feira, 23 de junho de 2015

O CARTÓRIO AMBULANTE

Como funcionavam os serviços do cartório na época do povoado de Santa Luzia, antiga Carnaubais?

Abaixo um trecho do livro A Santa Luzia do meu tempo do escritor Gilberto Freire de Melo que nos conta direitinho como acontecia:


“O tabelião era Mariano Barbosa de Farias, e a sede do Cartório era na sua residência, no Rosário ou proximidades. Quem precisasse de atendimento, tinha que avisar ao Tabelião que se deslocava para o sítio de onde viera o chamado, e atendia as necessidades, quaisquer que fossem as suas dimensões. Transportava, num saco, os livros que iria utilizar, e, a pé ou a cavalo, prestava os seus serviços com precisão nunca reclamada”.

Mariano Barbosa de Farias foi nomeado tabelião público do povoado de Santa Luzia em 06 de outubro de 1936. A nomeação se deu pelo governador da época Rafael Fernandes Pimenta e pelo secretário de justiça Oscar Homem de Siqueira. Ele ocupou esse cargo por 29 anos, até a sua aposentadoria que aconteceu no dia 02 de julho de 1965. Ele foi por quase 30 anos o cartório ambulante da comunidade de Santa Luzia (atual Carnaubais).

Em sua homenagem, a escola do bairro Casinhas recebeu o seu nome, além de uma das ruas de nossa cidade. 


sexta-feira, 19 de junho de 2015

A PARTEIRA

Por não existir hospitais, maternidades ou posto de saúde nas terras de Santa Luzia era comum os partos humanos acontecerem na própria casa dos casais. Nesse contexto, se destacou a figura da parteira, alguma mulher da comunidade que tinha como missão ajudar as mães na hora do parto, “pegar” e limpar o recém-nascido.

Elas não tinham treinamento ou conhecimentos de medicina e enfermagem, mas seu trabalho era indispensável ás gestantes da época, tendo que enfrentar muitas vezes perigos para chegar até a casa onde necessitava seu auxílio, dada as precárias condições das estradas e veredas que só eram transitáveis a pé ou por carros-de-boi, situação essa que era agravada na época das enchentes, que por sua vez inundavam as lagoas e interrompiam as passagens dificultando ainda mais os acessos. Isso, sem falara das próprias dificuldades circunstanciais, tais como a grande distância entre a casa do casal e da parteira, partos que aconteciam a noite ou pela própria saúde das mães.

Uma das pateiras bem conhecidas de Carnaubais foi a senhora Josefa Francisca da Silva, conhecida por Zefa Xole, ou então por Mãe Zefa. Por seu importante trabalho, ela foi homenageada com o nome de uma creche em Carnaubais, a creche Zefa Xole, cujo prédio hoje em dia abriga a Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Assistência Social – SEMTHAS.

No Museu Zulmira se encontra uma aparadeira (foto acima), uma espécie de vaso, utilizado pelas parteiras para limpar e dar o primeiro banho nas crianças após o nascimento.


Muitos carnaubaenses quando vieram ao mundo, foram “aparados” não por mãos de médicos ou enfermeiros, mas por mãos das parteiras, essas importantes mulheres com um importante ofício que ajudou muitas famílias naquela época. 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

SOBRE O CARRO DE BOI

Na época em que Carnaubais ainda era o povoado de Santa Luzia era comum a presença do carreiro com o seu carro de boi. O Carro de boi é um dos mais primitivos e simples meios de transporte ainda em uso nos meios rurais, utilizado para o transporte de cargas (produtos agrícolas) e pessoas e o seu condutor era conhecido como “carreiro”. A seguir, um trecho do livro A Santa Luzia do meu tempo, do escritor Gilberto Freire de Melo que fala um pouco sobre essa importante figura:

“Vivia-se um tempo em que a comunicação se fazia através do ‘carreiro’ – o piloto dos carros de bois – veículo a tração animal remanescente de uma época em que não se ouvia o ronco dos motores de automóveis ou de caminhões. O único barulho indicador da passagem ou chegada do transporte utilizado na região era o cantar dolente ‘dos cocão’ das rodas do carro, lubrificados com sebo e carvão vegetal para que o roçar no eixo, tudo de madeira, produzisse mais estridente e mais melodioso o som que parecia um gemido triste, plangente, ouvido à distância. E o ‘carreiro’ fazia o transporte das cargas, dos passageiros, das encomendasse das notícias que divulgava ao seu sabor, obedecendo ao princípio da sabedoria popular: quem conta um conto aumenta um ponto”.

Em outro trecho também interessante, podemos encontrar:

 “Até então, as notícias, os fatos e feitos históricos e heroicos da região eram transportados pelo ‘carreiro’, assim chamado o condutor do carro de boi, que, de boca em boca, as transmitia aos habitantes. Assim se fazia a comunicação. Os casamentos, os batizados, os óbitos e os episódios mais importantes da vida na Várzea do Açu eram distribuídas num colóquio verbal e entusiasmado entre as comunidades, nos encontros casuais ou nas reuniões dos alpendres que à boca da noite se realizavam para os comentários de tudo quanto se passava nas redondezas”.

          Abaixo, um vídeo muito interessante falando sobre esse importante instrumento da época dos nossos avós.